Direção: Julian
Schnabel
Elenco: Mathieu
Amalric, Emmanuelle
Seigner, Marie-Josée
Croze
Nacionalidades: França, EUA
O filme conta a história de Jean-Dominic Bauby, editor da
revista Elle francesa, que sofre um acidente vascular cerebral e perde
sua mobilidade e comunicação. O protagonista choca-se com a reviravolta em sua vida: sustentado
por um mundo das aparências, cheio de glamour e, de repente, preso em um corpo
incapaz de se mover e de se comunicar efetivamente.
A metáfora do "escafandro" sugere esse
aprisionamento, uma angústia claustrofóbica, a clausura imposta pela condição
física limitada. Por outro lado, o raciocínio de Bauby permanece intacto, o
que lhe traz grande sofrimento por ser perfeitamente capaz de observar e avaliar a sua nova situação.
Com a ajuda de terapeutas, o paciente aprende a se comunicar através do olho esquerdo,
piscando para expressar um “sim” ou um “não”.
A “borboleta” representa o que JeanDo, como era chamado por
todos, possuía de mais livre e leve: a memória e a imaginação. Nesses momentos,
em um monólogo imaginário, o protagonista/narrador assume a liberdade (com suas
asas) que lhe falta no aspecto físico.
O grande mérito da direção de O Escafandro e a Borboleta
é posicionar o espectador no lugar do protagonista, experimentando a visão
restrita de Bauby. Talvez, este seja o
aspecto mais genial e, ao mesmo tempo, mais insuportável do filme.
Não é algo fácil de digerir, muito menos divertido, mas o filme vale
como experiência que força a expulsão da zona de conforto. Não pretendo assistir novamente às
cenas pesadas, mas reconheço que há muita poesia tanto no título quanto no
desenvolvimento de toda a trama.
O tom lírico prevalece criando um clima denso
de total introspecção que incomoda bastante. Pelo menos, a mim incomodou. Isso
é ruim? Não, necessariamente, pois o desconforto leva a pensar, a refletir
sobre valores relegados a segundo plano em nosso cotidiano.
Não é uma obra cinematográfica que cause indiferença, longe
disso. O mal-estar, instalado logo no início do filme, percorre todos os minutos seguintes. Admito que, apesar
de me sentir muito incomodada com o ritmo moroso, que transforma as cenas em um corredor
de cenas cada vez mais estreito, não há como negar a alta qualidade da produção.
Tudo neste filme é inovador, com traços tão particulares que
supera fácil outros trabalhos do mesmo nível. Por essa excelência, O
Escafandro e a Borboleta recebeu críticas bastante positivas e levou o
prêmio de melhor direção em Cannes, em 2007.
Se você for claustrofóbico e não gosta de se sentir preso em
outro corpo, desista de assistir a O Escafandro e a Borboleta. No entanto, se deseja experimentar novas sensações e aceita rever seus conceitos, mergulhe fundo com Jean-Dominic Bauby. Afinal, existem borboletas mesmo no claustro.
Cotação: ***
Lembro de ter gostado do filme. Aquele "gostado" esquisito, justamente por ter sentido esse desconforto que você citou. Não deixa de ser um grande mérito (e acredito que parte da proposta) do filme.
ResponderExcluirE às vezes a gente reclama que não tem condições favoráveis para escrever...