Confesso que quando comecei a ler
A Redenção do Anjo Caído, pensei: mais um livro sobre anjos. Não, não é mais um
livro sobre anjos. É o livro. Melhor ou pior? Isso cabe a cada leitor decidir,
mas posso contribuir compartilhando minhas impressões.
A saga do carismático Lúcifer
divide-se em etapas bem definidas, como degraus desordenados: Paraíso, Inferno,
Terra. Conforme o protagonista entra em um mundo, nota-se logo uma clara
mudança de “pegada” no tom da narrativa. Tudo se transforma, o tempo todo, no universo
do maior dos anjos.
Ao longo dos capítulos, consegui fazer
uma interessante associação entre os acontecimentos narrados e os quatro
elementos: ar, terra, água e fogo. Diz o autor que não foi intencional, mas
está lá, os símbolos em quase todos os parágrafos, marcando a queda, o
despertar e a esperada redenção do anjo caído.
Os personagens são construídos de
maneira linear, tecidos com os fios delicados de fantasia e cerzidos com
resistente e áspero material cotidiano. Não há como não se sensibilizar com a
personagem Gisele, a Giza. Encantadora malandrinha, o contraponto de Lúcifer. Misturados
a anjos e demônios, surgem outros personagens bem simpáticos, sempre muito bem
caracterizados, que me pareceram tão familiares como, por exemplo, a senhora da
barraquinha de hot dog.
Como definir Lulu, digo, Lúcifer,
na sua trajetória terrena? Creio que essa será uma experiência bastante
particular do leitor. O mais provável é que você encontre um anjo caído com
tantas facetas, mesclando instintos de vingança, proteção e retomada de poder,
que desista completamente de qualquer definição.
Algumas passagens do livro beiram
ao drama. Não, pensando bem, comem o drama pelas beiradas. Parágrafos inteiros
abordam o caos externo e interno, com habilidade e talvez, como já disse
alguém, toques de sadismo. O lado triste, infeliz, a parcela que nem o inferno
aceitou. E não serei eu que revelarei se o autor poupou ou não as criancinhas.
Há também momentos de poesia, com
direito ao contraste da delicadeza da borboletinha amarela com um homem de proporções
rinocerônticas. É melhor não se focar
muito nessas passagens ou se arriscará a rotular o autor de “fofolete”.
Uma das passagens mais comoventes
do livro mostra que o Príncipe dos Anjos, apesar de toda a sua trajetória infernal,
mantém a essência de criação divina, chegando a reconhecer a possibilidade de se
aproximar dos seres humanos, os usurpadores do amor de Deus.
(...) sensação de que talvez não fosse assim tão difícil gostar dos
humanos.
A parte mais, digamos assim, terrena do romance foi a que mais me
agradou. A identificação com os personagens e seus conflitos foi imediata. Por
isso, senti um certo alívio quando notei que o autor não se alongou demais nos
pormenores infernais. Chega a queimar, mas passa.
A afiada caracterização dos
personagens e a ótima descrição das relações criadas no novo cotidiano de
Lúcifer fizeram com que eu me aproximasse mais da trama, e olhando bem de
perto, ninguém é normal, nem o diabo é tão feio quanto dizem. E assim que
assume o lado endiabrado, o leitor é capaz de apertar as mãos do narrador e
dizer – Estamos juntos nessa!
Portanto, leitor, não se espante
se, lá pela metade do livro, você se pegar torcendo pelo demônio. Aquiete o seu
sentimento de culpa dizendo que, afinal, antes de tudo, Lúcifer é um anjo
criado por Deus. Talvez isso funcione. Comigo, funcionou bem.
Fabio Baptista também nos brinda,
vez por outra, com cutucadas nem sempre sutis, em meio a frases irônicas e
clichês bem colocados, despertando sentimentos tão humanos, daqueles que nos
levam do céu ao inferno. A perda de um
amor, a morte de um amigo, a traição inesperada provam que nada mais será o
mesmo, assim que se virar a página:
(...) mesmo que uma ferida daquelas que demoram a cicatrizar estivesse
aberta e as coisas estivessem um pouco (um pouco que incomodava muito) diferentes
do que eram antes.
Adorei acompanhar a saga de
Lúcifer, sua personalidade bipolar (anjo/demônio), ora caindo no drama, no
inferno das emoções mais densas e rasteiras; ora tinindo em ironia e até
revelando sentimentos e reações que
chegam a comover a mais insensível Claudia, digo, pedra.
Apesar de tudo (sono, cansaço, as
pragas do Egito reunidas, o apocalipse que é a vida de uma mãe de adolescente),
não consegui parar de ler até chegar ao último ponto. Simples assim, gostei
mesmo do livro, embora tenha praguejado algumas vezes contra o autor. Depois
ele ainda se pergunta por que o Cupido está de mal...
Segundo consta nos autos,
lendários ou não, o romance foi concluído sob algumas ameaças de morte. Valeu a
“pena” do escritor e todas as noites insones. A cada página, a crescente curiosidade supera
qualquer resistência ao tema anjos e
demônios.
Quem quer conhecer o destino do
anjo caído, levanta a mão, digo... vai ler o livro!
Sai quando nas livrarias?
Cotação: *****
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Ótima resenha, Claudia. Assim como você, também fui assaltado por sentimentos antagônicos enquanto lia o livro. Prova de que o autor sabe como manipular -- no melhor sentido da expressão -- as emoções de quem lê.
ResponderExcluirSabe o que essas resenhas fazem com o ego dos escritores, né? rsrs
ResponderExcluirInflavam e inflamam? Não temos prova, mas muita convicção quanto ao seu sucesso.
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